A PRESENÇA DA PERVERSÃO NA LITERATURA: UM OLHAR ATENTO EM RAIMUNDO CARRERO
6093 palavras
25 páginas
A PRESENÇA DA PERVERSÃO NA LITERATURA: UM OLHAR ATENTO EM RAIMUNDO CARRERO
Luciléa Ferreira GANDRA1
RESUMO: O presente artigo pretende discutir o espaço literário como lugar de uma estética da perversão, alheio à tradicional discussão moral. Para isto, utilizaremos o viés teórico da psicanálise de Freud e Lacan, obras e autores significativos para o tema e mais detalhadamente, Tangolomango: ritual das paixões deste mundo de Raimundo Carrero (2013), como suporte para a identificação de possíveis fetiches compartilhados entre autor, personagem e leitor.
PALAVRAS-CHAVE: Perversão, fetiche, literatura, Raimundo Carrero.
1 Introdução
As palavras de Nietzsche (1983), no prefácio de um de seus livros, “Basta, eu vivo ainda, e a vida não foi inventada pela moral” (NIETZSCHE, 1983) parecem ter sido tomadas como lema por muitos escritores, alguns dos quais considerados clássicos da literatura como Dostoievski, Kafka, Pasolini e André Gide entre outros, sem nos esquecer dos tradicionais perversos Sade e Masoch, ainda que Sade tenha sido anterior a Nietzsche. Mais recentemente, poderíamos citar Jonathan Littell e entre nós, Hilda Hilst, Nelson Rodrigues, Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, Raduan Nassar, a lista seria enorme, e dela nem mesmo Machado de Assis ficaria de fora.
Também Nietzsche (1983), em uma tentativa de justificar-se perante as incriminações sofridas por suas obras, quase todas acusadas de incitamento à inversão de valor e hábitos, diz ter procurado abrigar-se em alguma parte, fosse uma veneração, leviandade ou estupidez e não a encontrando, conquistando-a, ainda que artificialmente, criando ou falsificando e conclui se questionando, “... e que outra coisa fizeram jamais os poetas? E para que existiria toda a arte no mundo?” (NIETZSCHE, 1983, p. 85).
Assim, para o livro que Nietzsche dedicou aos por ele chamados de “espíritos livres”, deu o sugestivo título de Humano, Demasiado Humano, colocando-o em consonância com outra de suas obras, Para