A participação dos negros escravos na guerra do paraguai

2397 palavras 10 páginas
TORAL, André Amaral de. A participação dos negros escravos na guerra do Paraguai. Estudos Avançados. 1995, vol.9, n.24

AS DENÚNCIAS DE QUE O exército brasileiro ao lutar na guerra (1864-1870) era formado por escravos não são novas. Ao contrário, têm pelo menos cento e vinte anos. Seus primeiros autores foram os redatores dos jornais paraguaios da época. Tratavam de menosprezar o exército brasileiro com base no duvidoso argumento de que, por ser formados por negros, deveria ser de qualidade inferior.
Soldados negros, ex-escravos ou não, lutaram em pelo menos três dos quatro exércitos dos países envolvidos. [...] Para se avaliar corretamente a participação dos negros escravos na guerra é preciso, primeiramente, esquecer ou suspender a questão das nacionalidades envolvidas.
Não repito aqui o erro dos ideólogos lopiztas, que consideravam o exército brasileiro – soldados e oficiais – formado indistintamente por macacos; e nem o dos detratores do Paraguai, que consideravam seu exército formado por caboclos, termo depreciativo que no Brasil designa índios e seus descendentes mais ou menos aculturados, e seu povo formado por descendentes dos guarani, uma vaga referência etnográfica. Negros e índios teriam sido, por essas análises baseadas em simplificações raciais, as maiores vítimas da guerra. (p. 287)

A frase dita pelo presidente paraguaio Francisco Solano López depois de receber na barriga o golpe de lança do cabo de ordens do coronel Joca Tavares, seu xará Francisco Lacerda – matem a esos diablos de macacos! –, é reveladora da idéia que seu governo queria fazer dos brasileiros no país. Na época da guerra (1864-1870), no Paraguai, o negro era, antes de tudo, o inimigo. O exército brasileiro era o exército macacuno, e seus líderes, segundo a propaganda lopizta, macacos que pretendiam escravizar o povo paraguaio, conduzindo-os da liberdade à escravidão. (p. 288)

O imperador é definido como um gran macaco representado sempre com uma longa cauda, Caxias um

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