A opinião pública e sua aparição no pensamento político
No século XVIII, a opinião pública entra a constituir um capítulo da Ciência Política. Quem o abre, com a energia aforismática de seu pensamento, é Rousseau.
Tivera já precursores ilustres: Maquiavel, Locke, Montaigne e
Pascal. Mas nenhum concedera à opinião o lugar que lhe determina
Rousseau na sociedade política, de “lei gravada menos no mármore ou no bronze do que no coração dos cidadãos”, nem por outra parte empregara o termo com o rigor e acuidade que se observa nas reflexões do filósofo do Contrato Social.
Sendo a quarta lei na divisão das leis políticas fundamentais, a opinião faz, segundo Rousseau, a “verdadeira constituição do Estado”,11 colocada ao lado dos costumes e mais poderosa que estes. O pensador, ao enaltecer costumes e opinião, queixava-se já, com assombroso realismo e senso profético, de que essas forças constituíssem ainda
“uma parte desconhecida aos nossos políticos”.12
Deve-se à escola fisiocrática, segundo Bauer, a primeira formulação de uma teoria da opinião pública. Segundo esse autor,
Mercier de la Rivière expunha no século XVIII a surpreendente tese de que o absolutismo não se regia pelo trono, mas pelo povo, através da opinião pública.13 Abrira-se assim uma fenda nos alicerces da realeza de direito divino e o absolutismo iluminista, abraçando-se à majestade do poder popular, fazia-lhe as primeiras concessões de ordem doutrinária. Príncipes e fidalgos tremiam pois diante desse poder novo, impalpável, misterioso: a opinião pública. Dela, dizia-nos Necker em páginas escritas depois da Revolução Francesa, proveio a grande revolução social do século, abalando o trono, solapando os valores espirituais da tradição, minando o poder da autoridade. Revolução enfim coroada do prestígio invisível que as elites ilustradas e instruídas, intervindo, subversivamente, pela vez primeira na cena política do
Ocidente, lhe conferiram.
A “politização” da opinião