A obra de Bernardim Ribeiro
Pouco se sabe documentalmente de Bernardim Ribeiro, além de que colaborou no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. Pode portanto supor-se que pertenceu, como Sá de Miranda, Gil Vicente e Garcia de Resende, à roda dos poetas palacianos. Há apenas algumas probabilidades que podem ser deduzidas com base nas circunstâncias da publicação das suas obras, na recorrência em todas elas de oblíquas referências autobiográdicas, e no testemunho contido em duas éclogas de Francisco de Sá de Miranda. Pela primeira, «Alexo», entende-se que o poeta «Ribeiro» (descrito como «o amigo do Torrão» numa variante, que permitem-nos supor, que Bernardim Ribeiro era do Alto Alentejo, da actual Vila do Torrão) teria caído em desgraça na Corte; pela segunda, «Basto», numa versão depois alterada, entende-se que se disseram «mil coisas» malevolentes do seu «bom Ribeiro amigo», que ele «conheceu bem o perigo», que «passou por mil embaraços», que «deixou ali a pele», mas que se encontraria então «em melhor parte». As obras conhecidas como sendo de Bernardim Ribeiro são: diversas cantigas, vilancetes, esparsas e outras composições incluídas no Cancioneiro Geral em 1516; cinco Éclogas; a sextina heptassilábica Ontem pôs-se o sol, e a noute, com mais duas poesias; e a novela Menina e Moça (também conhecida por Livro das Saudades). A colaboração no Cancioneiro Geral pouco tem, à primeira vista, de pessoal: são peças de cortesia amorosa e dialéctica sentimental, em que as relações e os sentimentos vêm referidos abstractamente segundo um estilo e uma versificação usados por outros poetas do Cancioneiro, como Sá de Miranda. As éclogas podem considerar-se, até pela sua estrutura versificatória, como desenvolvimento das cantigas do Cancioneiro em que as estâncias, deixando de sujeitar-se a motes, passassem a ligar-se entre si por uma intriga amorosa-pastorial, mais ou menos entretecida do gabo devido à incúria do pastor enamorado. Como quadro de