A Nova Classe Média
Eles vieram para ficar e gastar. A nova classe média brasileira é composta de milhões
de trabalhadores que, com renda familiar em torno de R$ 1.300, ingressam sem medo no
mercado e deixam o País menos desigual.
Como naquela antiga canção de Chico Buarque, o amor de Alexsander de Souza
Carvalho, 28 anos, e Fernanda, 24 anos, é muito bom, mas o horário é que nunca
combina. Ele é funcionário, chefe da equipe de frentistas de um posto de gasolina, às
voltas com inesperados plantões, e ela - que não é bailarina - trabalha como recepcionista
num hospital. O casal tem um filho, Gustavo, de 1 ano. Alexsander também é pai de
Gabriela, de 6 anos, de outro relacionamento.
Desencontros à parte - ultimamente são raras as vezes que a família consegue ficar junta
-, o casal anda feliz da vida. Mora numa região valorizada em São Miguel Paulista - bairro
da zona Leste paulistana que deixou para o passado o estigma de periferia -, numa rua
cheia de casas bem bacanas, ainda que uma grande favela se avizinhe do lugar. Na
garagem do sobrado cinza - herdado do pai -, há uma Paraty 99, comprada há dois anos.
Alexsander ainda precisa quitar 15 prestações do carro. Dívida que não o impediu de
comprar recentemente um celular para a mulher e se arrepender de "ter parcelado e
gastado R$ 150 em juros, por besteira", já que prefere comprar tudo a vista. A renda
mensal da família é de R$ 1.800, sem contar os R$ 300 de benefícios e caixinha que
Alexsander recebe eventualmente. A casa é bem aparelhada: tem três TVs, DVD,
geladeira, fogão. "Tudo que precisamos", como ele enfatiza.
A família de Alexsander é o retrato fiel de uma nova categoria de consumidores que
compõem o que a revista britânica The Economist definiu como a nova e emergente
classe média brasileira. Um contingente de trabalhadores,