A mente
Plotino, tradução de Américo Sommerman
"Tratados das Enéadas", Editora Polar, SP, 2000
1. O Belo dirige-se sobre tudo à visão, mas também há uma beleza para a audição, como em certas combinações de palavras e na música de toda espécie, pois a melodia e os ritmos são belos. As mentes que se elevam para além do reino dos sentidos encontram uma beleza na conduta de vida: em atos, caracteres, bem como a encontram nas ciências e nas virtudes. Há uma beleza anterior a essa? A inquirição que se segue o mostrará.
O que faz com que a visão vislumbre a beleza do corpo e a audição seja tocada pela beleza dos sons? Por que tudo o que está relacionado à alma é belo? É de um único Princípio que todas as coisas belas tiram sua beleza ou há uma beleza nas coisas corpóreas e outra nas incorpóreas? E o que são essas belezas ou essa beleza? Certas coisas, como as formas materiais, são belas não devido à sua própria substância, mas por participação. Outras são belas em si mesmas, como a virtude. Os mesmos corpos mostram-se ora belos, ora desprovidos de beleza, de modo que o ente do corpo é muito diferente do ente da beleza. Que beleza então é essa que está presente nas formas materiais? Eis a primeira coisa a ser respondida em nosso questionamento.
O que é que atrai o olhar do espectador para os objetos belos e faz com que se alegre com a sua contemplação? Se encontrarmos a causa disso, talvez possamos nos servir dela como uma escada para contemplar as outras belezas. Quase todo mundo afirma que a beleza visível resulta da simetria das partes umas em relação às outras e em relação ao conjunto, dotadas, além disso, de certa beleza de cores. Neste caso, a beleza dos seres e de todas as coisas seria devida à sua simetria e sua proporção. Para aqueles que pensam assim, um ser simples não será belo, mas apenas um ser composto. Ademais, cada parte não terá a beleza em si mesma, mas apenas ao combinar-se com as outras para constituir um conjunto belo. No entanto, se o