A melancolia do natal
Nos Estados Unidos e no Canadá, há uma forte mobilização para que os estabelecimentos comerciais suprimam de suas mensagens de fim de ano qualquer referência ao natal. Se argumenta que felicitações cristãs ofenderiam os ateus e não-cristãos e deveriam ser mudadas de “feliz natal” para “boas festas”, a árvore de natal para árvore de boas-festas e assim por diante. Com efeito, se isso fosse implementado, provavelmente muitos apostariam que certas dificuldades desta época do ano seriam eliminadas.
Todos sabemos como o período é estressante. Desde muito antes da festa, enfrenta-se os trabalhosos preparativos, a relação de convidados, a extensa lista de compras, o calor no trânsito congestionado, a vertigem nas lojas apinhadas de compradores vorazes e irritados, as filas intermináveis no supermercado, a preocupação de comprar o presente certo para cada pessoa, sem esquecer de combinar tudo às limitações do orçamento.
Mas não é a esse estresse que me reporto. Qualquer encontro programado que reúna um número superior de pessoas deve ser organizado e há um laborioso caminho para isso. Refiro-me em especial àqueles sentimentos pouco definidos que mesclam uma certa angústia à tristeza e que acometem um número surpreendente de pessoas na época natalina, levando-as a um desconsolo melancólico.
A natureza desta apreensão é revelada no exame do que se espera desta cerimônia. Lá estarão familiares e amigos, próximos ou distantes, os que desejamos encontrar, os que nos são indiferentes e até mesmo os inconvenientes. Nisso não há nada de incomum pois só um agrupamento muito restrito poderia reunir apenas os mutuamente desejados. No entanto, a festa de natal não é uma reunião qualquer. Para além das formalidades e cortesias, há uma tensão que paira sobre as cabeças forçando-as a refletir sobre o significado deste inevitável encontro. Esta tensão é gerada pela ainda indissociável lembrança que o natal compele para a vivência de sentimentos mais