A maça
Sempre tive curiosidade em saber o real significado, se é que podemos assim definir, da mordida dada por Eva e Adão à maçã.
De algum tempo para cá, guardava a suspeita de que poderia estar relacionada com desditosa iniciação sexual do casal que habitava o jardim paradisíaco. De qualquer sorte, deixei essa concepção sob o lençol das épocas.
Por esses dias, não só acatei outra vertente, como também fiz leituras de outras interpretações concebidas por estudiosos da minha (direito) e de outras áreas (psicologia).
Em uma delas, que não estava diretamente ligada a tão estigmatizada mordida, mais sim a consequência advinda; o doutrinador considerou que a expulsão do casal do paraíso pelo divino não teria outro significado senão a gênese das penas; estas com caráter mais forte no direito penal.
Em outra oportunidade, por sua vez, o professor, ao explicar sobre questões atinentes ao meio ambiente, relatou aos ouvintes que, a olhar pela origem das coisas, poderíamos considerar que a degradação ambiental teve seu início (muito provavelmente não pelo simples colhimento do fruto, mas antes pela proibição previamente imposta) com a retirada da maça de seu respectivo vegetal.
Já Freud, em alusão a vida paradisíaca e em outros termos, diz que o evento representado pelas dentadas na maça, com consequente expulsão do paraíso, pode tranquilamente ser traduzido como o primeiro contato do homem com seus pudores reprováveis.
Bom, a seguir esse raciocínio, não deixo de relatar minha última convicção. Cá construir que a maça poderia ser a legítima representante de todo equívoco humano (ou, quem assim preferir chamar, pecado), que segue sendo mordido por quem o carrega (Eva) e quem compartilha (Adão), e reservando nos a igual sorte do solitário casal, que é descer às terras de nossas lamentações psicológicas.
E, a considerar esta última, vejo que estamos fadados a morder várias maças em nossa breve existência terrena e, consequentemente, a descer de nossas breves