A literatura negra
Ao se refletir sobre a construção do éthos do sujeito negro, com base na formação do cânone nacional, cujo movimento literário vigente era o Romântico, pode-se observá-lo em dois posicionamentos distintos e logo duas projeções imagéticas deste sujeito também distintas: numa visão distanciada em que a vivência do negro dentro do processo histórico cultural nacional o apresenta como objeto, tema ou enunciado, o que provoca procedimentos, ideologias, atitudes e estereótipos da “estética branca dominante” (Proença Filho, 2004).
Isto posto, o negro passa a integrar narrativas que tratam mais da escravidão e menos sobre o negro. Assim, o Sistema Literário brasileiro silencia ao longo de sua formação um grupo étnico constituinte do hibridismo do povo brasileiro, silencia uma cultura e suas manifestações. E acaba conferindo um posicionamento, ao sujeito negro, acessório às aspirações da classe dominante difusora dos bens culturais. Num outro posicionamento, ou seja, numa visão engajada desse sujeito, que ao assumir a “voz” do discurso adquire uma atitude compromissada com a construção do seu próprio percurso e imagem, pode-se observar, dentre outros anseios, o afã de legitimar a sua voz veiculando uma identidade que está intrinsecamente ligada ao lugar social ocupado pelo povo negro no Brasil.
Inserida no conjunto das produções contemporâneas, a Literatura Negra Brasileira, tratada nesse estudo como um conceito semiótico, ou seja, definido por uma rede de relações em que a cor do éthos de enunciador, os temas trabalhados, a cultura manifestada bem como a raça (conceito socialmente construído) são elementos que a definem (Castro, 2006:8), é considerada em relação às escolas literárias do século XX como subliteratura ou ainda militante, pelo fato de apresentar um conteúdo étnico e social de um grupo1. Em função disso, esses textos encontram dificuldade de se inserirem no mercado editorial e não são avaliados como literários do ponto de