A liga: a vez do jornalismo-performance
Juliana Gutmann
A Liga, novo programa jornalístico da Band, surgiu no cenário televisivo brasileiro com a promessa de aprofundar a “realidade retratada”, acompanhando o dia a dia dos seus personagens, chegando a passar por eles, como adiantou Thiago Ferreira, em texto publicado neste mesmo site. Mas se, do ponto de vista do conteúdo, os temas de apelo social até agora cobertos, como superlotação dos presídios, favelas e prostituição, não são nenhuma surpresa no quesito novidade, onde estaria a evocada originalidade do programa? Para “mostrar como é difícil viver nas ruas”, o programa de estréia, exibido em 04 de maio, apresenta quatro situações experienciadas pelos repórteres, que acompanham seus personagens num intervalo de tempo que simula o passar do dia. Tainá Muller perambula pela avenida paulista juntamente com a família de Rose; Thaíde vivencia cenas do cotidiano de Hefferson e Lupita, Débora Villalba vira “tia” de adolescentes do centro do Rio; e o conhecido Rafinha Bastos se transforma em mendigo para “viver na pele” essa difícil rotina.
O curioso aqui é que a notícia não está exatamente nas diversas situações vividas pelos moradores de rua, mas nas experiências daqueles que os acompanham. A abordagem sobre o fato no A Liga é essencialmente centrada na figura do mediador, o que nos leva a admitir que a sua principal marca de endereçamento está na atuação performática dos repórteres. A estratégia, bastante explorada pelos programas policiais, ganha ares, digamos, mais assépticos com o crivo do selo Cuatro Cabezas (produtora argentina também responsável pelo fenômeno CQC). Os repórteres do A Liga correm, sofrem, assustamse, choram, emocionam-se, demonstram compaixão pelas suas fontes e proferem apelos verbais como: “como é possível que uma pessoa trate o outro como um animal”, “o que corta o coração é saber que há cerca de mil crianças sem lar”.
A narrativa aqui tem como enredo a inserção do