A justiça
Com a justiça abordamos a última das quatro virtudes cardeais. Precisamos das outras três, de tal modo o tema é imenso. E dela mesma, a tal ponto ele está exposto aos interesses e aos conflitos de todas as ordens.
“A justiça não existe”, dizia Alain; “ a justiça pertence à ordem das coisas que se devem fazer justamente porque não existem.” E acrescentava: “A justiça existirá se a fizermos.” Eis o grande problema humano.
Falando das quatro virtudes cardeais, podemos ter a noção que a mais importante referente as outras três, sem alguma dúvida é a justiça. A serviço da injustiça ou do mal, prudência, temperança e coragem não seriam virtudes, mas sim, simples talentos ou qualidades do espírito ou do temperamento.
De tudo o que é possível e cabível acontecer no mundo, e mesmo em geral fora do mundo, não há nada que possa ser considerado bom sem restrições, a não ser, apenas, uma boa vontade.
Em resumo, a justiça é boa em si, como a boa vontade de Kant, e é por isso que esta não poderia ignorá-la. Cumprir seu dever, por certo, mas não é à custa da justiça, nem contra ela, como seria possível, de resto, uma vez que o dever a supõe, o que estou dizendo, uma vez o dever é a própria justiça, como obrigação e sem duvida alguma, como exigência.
A justiça não é uma virtude como as outras, ela é digamos assim, um horizonte de todas as leis de sua existência. Como dizia Aristóteles: “Uma virtude completa”.
Todo o valor a supõe, toda a humanidade a requer, não é, porem, que ela faça as vezes da felicidade, mas nenhuma felicidade a dispensa.
O utilitarismo chega aqui a seu limite, se a justiça fosse apenas um contrato de utilidade, apenas uma otimização do bem-estar coletivo. Poderia ser justo, para a felicidade de quase todos, sacrificar alguns, sem seu acordo e ainda que fossem perfeitamente inocentes e indefesos. Pois bem, é o que a justiça proíbe, ou pelo menos deve proibir.
A justiça é mais e melhor