A importancia da Música no Candomblé
Música e religião têm uma relação bastante estreita, pois estão presentes na vida humana desde os seus primórdios. Em se tratando de rito, são inúmeras as cerimonias religiosas que possuem sonoridades variadas que cumprem igualmente variadas funções ritualísticas, que vão desde sonoridades que retiram da palavra suas funções mais imediatas, através de uma entonação melódica das palavras e hipnótica repetição. (cf. VASCONCELOS, 2010), à produção de harmônicos e suas reverberações que buscam criar uma sensação de imersão sonora na “presença do divino”, como é o caso dos Monges Tibetanos e o seu canto difônico1, que através das grandes massas de harmônicos geram uma música que serve de guia ao estado de profunda meditação. São várias as possibilidades que podemos extrair de cada estudo de caso dessa relação entre elementos sonoros e religiosidade. Com o Candomblé não é diferente, possuindo um panteão extenso de deuses e deusas, onde se encontram uma grande variedade de concepções místicas e procedimentos rituais bastante complexos, o Candomblé tem sua dimensão pública manifestada através de festas periódicas, onde o “povo de santo” se apresenta de forma exuberante, através de cantos, danças e execução de instrumentos de percussão (membranofones2 e de altura indeterminada). Possuindo uma organização sonora que perde a maior parte de seu sentido se extraída de seu contexto, a música do candomblé precisa ser entendida como um elemento ritual, com suas especificidades musicológicas, mas sempre ligadas às suas significações religiosas. Pois no candomblé, os cantos religiosos (ou cantigas) e os toques são usados, como agentes condutores do axé, pois eles transmitem o poder de ação para mobilizar a atividade ritual, o transe.
As relações entre as músicas executadas e o transe são bastante importantes tanto na estrutura da religião quanto no enfoque musicológico e se dão em um complexo sistema de vinculações entre execução de