A ideia de Europa
No seu livro, A Ideia de Europa (Gradiva), George Steiner advoga que são cinco, os axiomas distintivos da identidade europeia que, mau grado, me esforçarei por sintetizar sem obliterar o sentido do texto.
Steiner começa por identificar o primeiro elemento, o café, local de sociabilidades geradoras e transmissoras de conhecimento, valores e sensibilidades, tugúrio acostumado à convivência de intelectuais, políticos e artistas. Estes locais, portadores de singularidades e de identidades próprias, reflectem as especificidades culturais, as segmentações sociais e as dinâmicas temporais vividas em cada época. Mais do que outros espaços, os cafés são ponto de encontro para habituées e forasteiros.
Seguidamente dá-nos conta de “uma paisagem a escala humana”, humanizada à medida de travessias pedestres de curta distância, em contraposição com a magnitude topográfica da América, África, Ásia e Oceânia: na Europa tudo é sufocantemente perto e pequeno.
Em terceiro lugar, a toponímia de ruas e praças, bastante associada à memória colectiva, ao traçado histórico. À memória dos grandes estadistas, escritores, poetas, músicos. Ao contrário das ruas numeradas e de esquadria rectilínea do novo mundo.
Como quarto elemento, anuncia-nos a herança da Antiguidade Clássica ao nível da «revolução» gnóstica e da moral judaico-cristã, presente no complexo axiológico que, em tese, unifica o povo europeu.
Finalmente, a consciência de uma finitude civilizacional alicerçada nada menos que numa particular atracção pela auto-destruição, observável nas quezílias intestinas e sobretudo nas hediondas alarvidades cometidas em Auschwitz ou Sarajevo. Em contrapartida, os quase dois milhões de mortos chacinados no Ruanda serão certamente uma fábula, bem como a guerra civil americana, as guerras pós-coloniais em África e na Ásia, o pré-extermínio de aborígenes pelos australianos e outras experiências «para-eugénicas» entre inúmeras tribos ditas primitivas [às escalas