A hora da microeconomia
29 de março de 2012 | 20h21
José Paulo Kupfer
As mensagens transmitidas pelo Relatório Trimestral de Inflação, divulgado nesta quinta-feira pelo Banco Central, vencido o cipoal de informações que se derramam por 150 páginas e 80 parágrafos, fora anexos e quadros, não são difíceis de captar. Em resumo, o teor da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) – aquela em que o BC anunciou, com todas e inéditas letras, que levaria a taxa básica de juros a 9% ao ano e aí a manteria por um tempo – ganhou aprofundamento.
Fica-se sabendo, por exemplo, que a razão da decisão de cortar logo os juros até 9% e mantê-los nesse nível tem a ver com as estimativas do BC em relação aos efeitos defasados no tempo das ações de política monetária na atividade econômica e nos índices de preços. Derivam justamente dessas estimativas as expectativas do BC numa retomada mais firme da atividade no segundo semestre e sua crença num repique da inflação nos primeiros meses de 2013, depois de fechar 2012 com o IPCA no centro da meta.
Numa visão mais geral, o BC desenhou, no Relatório de março, um quadro prospectivo benigno das variações macroeconômicas. Destacou, é verdade, algumas pressões potenciais sobre os preços, com ênfase naquelas com origem na baixa taxa projetada de desemprego e nos impactos de reajustes salariais baseados em índices de inflação passados, mas, em momento algum, apontou fatores de risco com potencial para levar a economia a sair do controle.
A mensagem de que, se não há conforto nos índices de inflação e demais indicadores macroeconômicos, também não existe sinais de descontrole, abre espaço para uma ação mais incisiva e abrangente do governo no campo microeconômico. É nesse campo que se apresentam as questões da competitividade – mais estruturais, sem dúvida, mas, no momento, nem por isso menos agudas e urgentes.
Relacionadas ao renitente “custo Brasil”, essas questões tão conhecidas, caso não sejam logo