A história política no campo da história cultural
CULTURAL
Maria de Fátima Silva Gouvêa∗
RESUMO
A História Política, após um período de considerável abandono, revive hoje uma importante fase de recuperação de sua produção. Não apenas clássicos de outras épocas estão sendo revisitados, como também uma geração de novos trabalhos no campo da História Cultural tem surgido como resultado desse movimento. Uma nova anatomia do poder tornou possível uma releitura do processo de surgimento do Estado Moderno, agora não mais entendido como a única forma de expressão da estrutura política da moderna sociedade disciplinar.
Palavras-Chaves: Poder, Política, Cultura
Ao longo do século passado e início deste século, a história política era tida e entendida mais como uma espécie de história militar ou diplomática do que qualquer outra coisa. A dimensão política era então admitida essencialmente a partir e através do Estado. Uma história que por um lado centrava-se nas batalhas, nas guerras e negociações envolvendo os diferentes Estados.
Para Peter Burke, este foi o primeiro conjunto de características da história “tradicional” - ou seja, do “paradigma tradicional” definido ∗
. Departamento de História, Universidade Federal Fluminense - UFF, Niterói/RJ.
26 como a “história rankeana”, conforme bases estabelecidas pelo historiador alemão Leopold von Ranke (1795-1886) - contra a qual, entre outras, se insurgirá mais tarde a Nova História1.
É a partir da década de 1920 que assistiremos o início de uma crítica mais sistematizada a esta história “tradicional”, crítica essa que será implacável especialmente em relação à história política, definida nos moldes de então. Cabe lembrar que esta crítica se realizou através de duas vertentes principais. A primeira seria constituída na França a partir dos anos 20 pela crítica dos Annales à essa história “tradicional”. Lucien
Febvre e March Bloch deram então início a uma nova produção historiográfica, movimento