A expressão da genericidade no português do brasil
Ana Müller**
Introdução
objetivo deste trabalho é investigar a semântica das expressões de referência a espécie e das sentenças genéricas no Português do Brasil (PB). Mais especificamente, vou investigar as diferenças entre as interpretações do definido genérico singular e plural, do indefinido genérico, do singular nu e do plural nu. Somente os nomes contáveis serão investigados. A análise servirá de ponto de partida para uma comparação com o comportamento desse fenômeno no Português Europeu (PE). A hipótese central é a de que a denotação do nome comum no PB inclui tanto átomos como pluralidades. As diferenças na interpretação dos vários sintagmas genéricos e sentenças genericamente quantificadas resultam desse
* Diferentes versões desse trabalho foram apresentadas no Proseminar in Semantics 1999, UMass-Amherst, USA, nos Seminários em Teoria Gramatical, USP-SP, no Colóquio PE-PB 2000, Coimbra, Portugal e no GT de Semântica do Celsul 2000, Curitiba, PR. Agradeço os comentários dos participantes, em particular, agradeço os comentários detalhados de Barbara Partee. A primeira versão desse trabalho foi elaborada durante meu pós-doutorado junto à UMassAmherst, EUA apoiado pela Capes e pela Fapesp. Agradeço a essas instituições. ** Universidade de São Paulo
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Revista Letras, Curitiba, n. 55, p. 153-165, jan./jun. 2001. Editora da UFPR
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MÜLLER, A. A expressão da genericidade no português do Brasil
fato e da existência de um operador singular (SING) e de um operador plural (PL) sobre a denotação do nome comum. O artigo segue a seguinte seqüência: (i) Na seção 1, apresento os fatos descritivos sobre a expressão da genericidade no PB assumindo que as línguas naturais fazem uso de dois mecanismos diferentes para expressar a genericidade: expressões de referência a espécie e quantificação genérica. Na seção 2, proponho uma interpretação para os nomes comuns e a interpretação para um operador