A Dor Historicamente
A dor e o medo provavelmente são os mais primitivos sofrimentos do homem, diante dos quais, ao contrário do que ocorria com o frio e a fome, ele ficava impotente.
Os recursos para aliviar a dor precederam de milênios o entendimento de seu mecanismo, como exemplo pode-se citar placas de argila encontradas na Babilônia e datadas de 2250 a.C. que descreviam o emprego de uma amálgama formada de sementes de meimendro e argamassa que, colocada na cavidade de um dente cariado, fazia passar a dor.
Aristóteles considerava a dor e o prazer como paixões da alma, para ele o cérebro não tinha função direta no processo sensitivo e a localização da percepção sensorial localizava-se no coração, chamado por Aristóteles de sensorium comune, sendo sede também de todas as funções fundamentais da vida e ainda lócus da alma (Bonica, 1990).
A concepção de Aristóteles foi aceita por mais de 2000 anos e constituiu um fator de atraso nas pesquisas fisiológicas e psicológicas sobre a natureza de fenômenos dolorosos. A partir da metade do século XX, a dor começou a ser investigada por fisiologistas e discutida em laboratórios e os resultados obtidos nesse campo gerou conflito entre fisiologistas, de um lado, e psicólogos e filósofos, de outro.
Com o desenvolvimento da neurofisiologia, o componente emocional da dor foi posto de lado. Mas estudos no século XX voltaram a considerar o quanto havia de psicológico na sensação dolorosa, mantendo-se a dualidade entre sensação e reação emocional.
Em 1979 a Associação Internacional para Estudos da Dor (IASP) estabelece o conceito de que a dor “é uma experiência desagradável, sensitiva e emocional, associada com lesão real ou potencial dos tecidos, ou discreta em termos dessa lesão” (Merskey, 1982).
De acordo com Kanner (1998): sempre existe dor quando alguém se queixa de dor, haja ou não um estímulo nociceptivo reconhecido. Szasz (Strain, 1975) diz que a simbolização da dor ocorre em três níveis, de modo que no primeiro