EUTANÁSIA E DISTANÁSIA
A complexidade do tema reforça a necessidade de ampliar a discussão, mantendo o eixo central em torno dos aspectos éticos, para dois aspectos:
- Genético: a rejeição atávica à morte é inerente ao seu humano, já que os corpos vivos multicelulares, de todas as espécies, muito especialmente, o da espécie Homo sapiens, foi organizado geneticamente, ao longo de milhares de anos, para manter a vida – a morte rejeitada;
- Social: a certeza da inevitabilidade da morte – a boa morte.
A. Morte rejeitada
A necessidade incontrolável de dar sentido à vida, diferente dos outros animais, e de minimizar a morte, expressa com transparência na História, contribuiu para materializar, como opostos, a saúde e a doença. A primeira, sinônimo de vida, ficou ligada ao bem; a segunda, ao mal, antecipava a morte, sempre temida.
A pulsão inata para desvendar a forma visível, em especial o corpo, dotado com propriedades sensíveis de comunicar-se e locomover-se, para fugir da dor e do desconforto, pode ser considerada como a primeira verdade material. É verdadeira em si mesma, porque dá forma ao viver, num movimento caleidoscópico, composto pela carnalidade da pele quente, pela realidade dos sentidos, da respiração e do ritmo cardíaco. Atinge e entrelaça o ser no mundo, através de um alucinado reproduzir.
Quando a morte advém, como antítese da vida, descolora o tegumento cutâneo, resfriando-o e tornando-o insensível ao pior dos tormentos: a dor. O movimento respiratório e o coração param. O corpo desfigurado pelo rigor cadavérico enche de sentido a vida dos que choram. É quando o vivo se apercebe da própria existência e rejeita a morte refletida no corpo endurecido, sem movimentos, na pele indolor e fria.
Os homens e as mulheres para reafirmarem a vida como episódio permanente, serve-se da ficção, domina e vivifica o corpo inanimado, prolonga a verdade material básica na crença de um renascimento, premiado ou castigado, nos moldes da