A Dimensão Discursiva Da Linguagem
A linguagem assumiu o estatuto de ciência autônoma graças aos estudos desenvolvidos por Saussure, a partir da célebre dicotomia língua/fala caracterizada no seu Curso de Lingüística Geral. Enquanto esta é ato individual de vontade e de inteligência, acessória, acidental, aquela é produto social que o indivíduo registra passivamente, conjunto de convenções, princípio de classificação. Com essa distinção, o estruturalismo saussuriano postulou a autonomia da língua em relação à fala, não assumindo esta última como objeto da Lingüística.
Essa oposição, entretanto, foi questionada por Bakhtin, para quem a linguagem é uma forma de interação social que se estabelece entre indivíduos socialmente organizados e inseridos numa situação concreta de comunicação. É nessa perspectiva que Bakhtin (1979) concebe a língua como um fato social, concreto, individualmente manifestado pelo falante. Concebe, assim, a enunciação como realidade da linguagem, inserindo, também, a situação de enunciação como elemento necessário à compreensão das trocas lingüísticas. Como fenômeno de interação, na enunciação, o interlocutor ocupa o lugar de sujeito ativo na constituição do sentido e a linguagem articula o lingüístico, o social e o ideológico. Para Bakhtin (1979, p. 22), “a palavra é o modo mais puro e sensível de relação social ... É, precisamente, na palavra que melhor se revelam as formas básicas, as formas ideológicas gerais da comunicação semiótica”.
Ao inserir a enunciação no contexto social mais amplo, o autor não só enfatiza a importância da situação de produção, incluindo os “atos sociais de caráter não verbal”, como explicita a verdadeira substância da língua, ou seja, sua realidade fundamental, constituída pelo “fenômeno social da interação verbal”, que propicia as circunstâncias para a evolução real