Aquisiçao linguagem
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TEXTO, GRAMÁTICA E PROCESSAMENTO
Ana Cristina Macário Lopes1
Durante muito tempo, a comunicação linguística foi perspectivada segundo o modelo do código, em consonância com aquilo a que Reddy 1979 chamou “the conduit metaphor”. Este modelo radica na assunção de que a comunicação se consuma pela codificação e descodificação de mensagens, garantida pela partilha de uma mesma gramática e é paradigmaticamente ilustrado pelo esquema Jakobsoniano do acto de comunicação verbal.
Trata-se de uma concepção ingénua e muito linear de comunicação, que está hoje definitivamente ultrapassada. O que mudou então, entretanto, dando origem a uma complexificação considerável dos actuais modelos de descrição/explicação da comunicação verbal?
Basicamente, a constatação de que o que efectivamente se comunica através de textos/discursos realizados em linguagem verbal não se esgota no que é dito.2
O acto de comunicação só é pleno se o interlocutor (ouvinte ou leitor) for capaz de apreender/captar a intenção do falante, aquilo que o falante quer efectivamente dizer e aquilo que ele faz ao dizer algo. Ora, como sublinham, entre muitos outros, Sperber
& Wilson (1986), o material linguístico produzido apenas funciona como “pista” , como indício a partir do qual o interlocutor se propõe reconstituir inferencialmente a intenção do falante, mobilizando para tal informação de natureza contextual. Ou seja, o material linguístico que configura o texto activa um conjunto de assunções contextuais com as quais interage, de modo a permitir ao interlocutor a construção de hipóteses acerca da significação entendida pelo produtor do texto. Deste modo, há sempre, por parte do leitor/ouvinte, uma margem de risco: interpretar é sempre uma forma de “guesswork” .
Dedico este texto à Fernanda Irene Fonseca, pela coerência de uma vida que alia convicções fortes e dúvida metódica, tendo sempre no horizonte a relação ontológica entre a língua e a