A democracia como valor universal e o debate entre os intelectuais brasileiros da década de 1970
A questão da democracia tornou-se a partir da segunda metade da década de 1970 uma preocupação constante nos afazeres dos intelectuais da esquerda brasileira, a problemática ganhou um destaque que poucas vezes se viu antes e a movimentação em seu entorno era marcada numa discussão tanto ao nível teórico quanto na orientação prática de inúmeras atividades desenvolvidas no período. Segundo o brasilianista Daniel Pécaut [2] a relevância que esta questão teve na movimentação e nas reflexões que se faziam a partir dos ambientes de esquerda no período ganhou uma dimensão sem precedentes na história do país. Não que a questão não tivera suscitado preocupação antes, todavia, a situação em que se encontrava a esquerda (sendo obrigada a se organizar de uma maneira mais efetiva e dar respostas num plano político imediato e prático) favorecia a emergência do debate e um maior aprofundamento sobre questões relativas à democracia. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é entender como os intelectuais do período inicial da transição viam e projetavam as suas análises em cima da questão democrática. É através de Carlos Nelson Coutinho – intelectual de grande projeção no período – que buscaremos compreender a discussão que era feita pela intelligentsia acerca da democracia. Assim, A democracia como valor universal obra escrita pelo filósofo brasileiro no ano de 1979 servirá como fio condutor na busca das determinações que tanto afligiram os intelectuais da esquerda. É necessário entender de qual democracia falavam e como dela falavam num período dilacerado pelo espectro (bem vivo) representado pela ditadura civil-militar [3] e marcado pela emergência de diversos atores sociais que se punham como portadores de contestação a esta ditadura. Hoje a constatação de que a transição do regime autoritário para o democrático deu-se “pelo alto” conduzido pelas elites