A dança e o teatro negro e os desafios do mercado
Todas as vezes que sou convidada a falar sobre o fazer cênico afro-brasileiro, inicio a minha fala dizendo da quebra e da dissolução dos fracionamentos das linguagens. No fazer cênico negro não há uma fronteira delimitada sobre o que venha a ser a dança e o teatro. Herdeiros dos rituais primordiais das antigas civilizações africanas reconstruídas aqui no Brasil pelas Comunidades de Axé, o artista afro-brasileiro está acostumado a ser cênico, a estar em intersecção com as linguagens artísticas sem uma criação hierárquica e sem juízo de valor. Mas, qual a relação desta introdução com a temática a ser abordada? Digo que compreender isso é primordial para se entender os nossos desafios no mercado. O fazer cênico peculiar desses grupos de artistas negros e suas formas de expressões artísticas lidam com desafios que vão desde a escolha temática de suas obras a mais pura e simples realização. Explico. Antes de pensarmos na obra artística, infelizmente, temos que pensar criticamente no que chamamos de “mercado”. Compreender em que circunstâncias nossos produtos artísticos estão inseridos neste “mercado”. Já evoluímos em várias instâncias de compreensão da necessidade de uma arte e cultura negra defendida e colocada em cena, num processo midiático que vise o fortalecimento do referencial negro e afro-brasileiro, mas esbarramos em questões ainda primordiais para a efetivação deste lugar para os nossos espetáculos. São questões que vão desde a formação artística ao acesso de instrumentos de financiamento. O mercado artístico-cultural brasileiro está formatado para dar conta de expressões artísticas que deem conta do imaginário do colonizador e suas variações. Neste mercado não está previsto a valorização da diversidade cultural do povo brasileiro e suas manifestações múltiplas e multifacetadas. Assim sendo este mercado NÃO quer nos