A crise financeira domina o processo de reprodução econômica global desde 2007. A identificação de suas origens e de seu caráter social, político e econômico tem enorme importância teórica e prática: por um lado, o estudo da instabilidade sistêmica permite identificar os principais aspectos da reprodução do sistema de acumulação dominante na atualidade (ou seja, a etapa atual do capitalismo), o neoliberalismo (2). Por outro, a crise ilumina as vulnerabilidades desse sistema de acumulação e permite a elaboração de plataformas políticas de confronto ao e transcendência do neoliberalismo. As análises marxistas da crise, partindo de uma abordagem sistêmica das relações de classe sob o neoliberalismo, sugerem que a crise atual é uma crise sistêmica no capitalismo neoliberal. Entretanto, ela não é, pelo menos por enquanto, uma crise do capitalismo neoliberal. Neoliberalismo e Financeirização O neoliberalismo é o modo de existência do capitalismo contemporâneo. Esse sistema de acumulação emergiu gradualmente, desde meados dos anos 1970, em resposta às transformações das condições de acumulação que acompanharam a desarticulação do consenso Keynesiano-social-democrático, a paralisia do desenvolvimentismo e a implosão do Bloco Soviético. Em essência, o neoliberalismo é baseado no uso sistemático do poder do Estado, sob o véu ideológico da ‘não-intervenção’, para impor um projeto hegemônico de recomposição da ordem capitalista em cinco níveis: a alocação de recursos domésticos, a integração econômica internacional, a reprodução do Estado, a ideologia e a reprodução da classe trabalhadora. Esses níveis são descritos brevemente abaixo, para permitir a demarcação das contradições que culminaram na crise atual. Sob o neoliberalismo, a capacidade estatal de alocar recursos intertemporalmente (ou seja, a relação entre investimento e consumo), intersetorialmente (a composição do produto e do investimento) e internacionalmente (a articulação da produção capitalista