Resenha do Texto: Neoliberalismo e educação: manual do usuário, de Pablo Gentili.
INTRODUÇÃO O texto procura abordar de forma crítica alguns aspectos da configuração do discurso neoliberal. Partindo do ponto da importância teórica e política de se compreender o neoliberalismo como um complexo de construção hegemônica, onde são traçadas estratégias de poder implementadas em dois sentidos: reformas concretas (no plano econômico, político, jurídico, educacional, etc.) e no plano ideológico, traçando estratégias culturais para impor novos diagnósticos sobre a crise construindo novos significados sociais a partir de reformas neoliberais como sendo as únicas que podem ser aplicadas no atual contexto histórico.
I. O NEOLIBERALISMO COMO CONSTRUÇÃO HEGEMÔNICA O neoliberalismo, então, expressa essa dupla dinâmica que caracteriza todo processo de construção hegemônica. De um lado, tratando-se de uma alternativa de poder construída por uma série de estratégias políticas, econômicas e jurídicas orientadas para encontrar uma saída dominante para a crise capitalista que se inicia ao final dos anos 60 manifestando-se claramente já nos anos 70. De outro lado, ela expressa e sintetiza um ambicioso projeto de reforma ideológica de nossas sociedades a construção e a difusão de um novo senso comum que fornece coerência, sentido e uma pretensa legitimidade às propostas de reforma impulsionadas pelo bloco dominante. O êxito cultural da proposta neoliberal dá-se mediante a imposição de um novo discurso que explica a crise e oferece um marco geral de respostas e estratégias para sair dela, expressando-se na capacidade que os neoliberais tiveram de impor suas verdades como aquelas que devem ser defendidas por qualquer pessoa sensata e responsável. Os governos neoliberais não só transformam materialmente a realidade econômica, política, jurídica e social, também conseguem que esta transformação seja aceita como a única saída possível (ainda que, às vezes, dolorosa) para a