A criação do texto literaria
FICHAMENTO
* “A criação do texto literário. Embora pareça bastante neutro, em sua generalidade, esse título já implica uma determinada teoria da literatura. A palavra criação supõe o tirar do nada, o tornar existente aquilo que não existia antes. É uma palavra teológica. Assim como Deus criou o mundo a partir do Verbo, assim o autor literário instauraria um mundo novo, nascido de sua vontade e de sua palavra”. (p. 100) * “Entretanto, o título proposto acopla criação a outra palavra que aponta para outras teorias, mais recentes. É a palavra texto. Ao introduzir-se a palavra texto, remete-se para a materialidade do escrito, e atenua-se o inefável da palavra criação. Forma-se assim um título de compromisso, de conciliação entre o ‘divino’ da gênese e o ‘humano, demasiadamente humano’ do objeto criado”. (p. 100) * “A literatura, felizmente, continua existindo, apesar de não acreditarmos mais na possibilidade de a linguagem representar ou expressar um real prévio, criar, inventar ou produzir um objeto que seja auto-suficiente ou, pelo contrário, reabsorvido e utilizado pelo real concreto. A literatura parte de um real que pretende dizer, falha sempre ao dizê-lo, mas ao falhar diz outra coisa, desvenda um mundo mais real do que aquele que pretendia dizer”. (p. 102) * “A literatura nasce de uma dupla falta: uma falta sentida no mundo, que se pretende suprir pela linguagem, ela própria sentida em seguida com falta”. (p. 103) * “A primeira falta é experimentada por todos, no mundo físico a que chamamos de real. O mundo em que vivemos, o mundo em que tropeçamos diariamente, não é satisfatório”. (p. 103) * “[…] O que há, e já houve em doses mais confortadoras para o homem, são modos de reagir à insatisfação que o mundo nos causa: pela religião, aceitando os desígnios da providencia e remetendo o mundo sem falhas para