A criança, a produção cultural e a escola
Falar sobre produção cultural para criança implica o que se entende por cultura e de que criança estamos falando. Ter cultura independe de ter erudição. Trata-se de uma condição inerente a todo ser vivo que produz significados individual e coletivamente no conjunto de atores sociais do seu tempo. Na década de 70, Paulo Freire defendia a idéia de que analfabeto tem cultura, de que índio tem cultura e que a criança também tem cultura. Howard Gardner afirmava que a criança carrega consigo, desde muito cedo, teorias ontológicas do numero, da mecânica, do mundo dos seres vivos e da mente chamadas teorias feitas em casa. A criança carrega consigo uma cultura concebida simbolicamente na imersão das vivencias experimentadas em sua comunidade cognitiva, que lhe fornece um mapa de navegação do qual fará uso ao longo da vida. Falamos da criança cujos familiares tem acesso à aquisição de bens produzidos pela indústria cultural e não de uma criança indistinta, genérica, muitas vezes idealizada e sem os matrizes impressos pelo contexto socioeconômico. Espera-se afirmar e não desconsiderar que os estratos sociais definem um tipo de infância e de infante, cuja cultura estará profundamente marcada por tais circunstancia. E as marcas vão alem da exposição aos bens culturais, situam-se no controle e na manipulação das emoções. Definida como foco de interesse dessa reflexão, a criança pertencente a camadas socialmente privilegiadas traz consigo, com raras exceções, a marca do consumo. Exemplo é ao acompanhar a mãe nas compras é um bom pretexto para exigir a aquisição de determinado brinquedo. As mães, alvo preferencial de grande parte da publicidade, diante da pressão feita por seus filhos, inserem-se numa contingência própria de novos tempos: ausentes do lar, por força de atividades profissionais, fazem tudo para compensar essa ausência com a aquisição de um bem que geralmente é brinquedo ou jogos,