A construção silenciosa do ego corporal
Ivanise Fontes1
Resumo
Considerando as angústias primitivas do bebê a autora apresenta a necessidade de construção de um ego corporal que as contenha. O fenômeno transferencial ganha um lugar especial por favorecer o retorno das impressões sensíveis, fator importante no tratamento das psicopatologias com precária formação de ego, como as personalidades aditivas, os casos-limite e os psicossomatizantes. O trabalho apresenta uma vinheta clínica que mostra a possibilidade de construção silenciosa de uma pele psíquica.
Palavras-chave: ego corporal; nascimento psíquico; psicopatologias contemporâneas; transferência. Introdução
Inicialmente pretendo tecer considerações sobre alguns aspectos da clínica psicanalítica contemporânea. Os impasses provocados, sobretudo, por um grupo de pacientes com organizações narcísicas têm demandado crescentes reflexões sobre a técnica analítica. Já em um texto de 1954, “Aspectos clínicos e metapsicológicos da regressão no contexto psicanalítico” (Winnicott, 2000, pp. 374-392), Winnicott nos chamava atenção para uma terceira categoria de pacientes (a primeira e a segunda já faziam parte da psicanálise tradicional) cuja análise deveria lidar com os estágios iniciais do desenvolvimento emocional. À diferença da neurose, o status de unidade nesses casos, dizia ele, ainda não fora adquirido. Estamos, portanto, diante de um grupo de pacientes onde o ego não é uma entidade estabelecida. O trabalho de interpretação perde seu efeito tendo em vista depender, para seu uso, de que os estágios iniciais do desenvolvimento do ego sejam um fato consumado (Winnicott, 2000,
p. 393).
Nesses pacientes chamados “modernos” temos a evidência da necessidade ainda da construção de um ego corporal, que não ficou efetivamente assegurado. “O ego é, primeiro e acima de tudo, um ego corporal” (Freud, 1923/1976, p. 41). Freud sabia do que estava falando. Para a discriminação