A Confissão de Lúcio

“A Confissão de Lúcio” é um conto escrito por Mário Sá-Carneiro, considerada uma das suas obras mais importantes e que está intimamente relacionada à sua vivência pessoal, ou seja, revela toda a sua inadaptação ao mundo e a constante busca do seu próprio eu, por exemplo em termos de sexualidade. O que faz com que o poeta mergulhe no seu mundo interior e, diferente de Fernando Pessoa e do seu desdobramento em heterônimos, atingisse a sua autodestruição. É um livro estranho por que nos dá por vezes a sensação de algo autobiográfico, que contém 3 das suas obsessões dominantes: o suicídio, o amor pervertido e o anormal. Neste trabalho irei abordar o “amor pervertido”. Narrada na primeira pessoa, Lúcio é solto, depois dos 10 anos de prisão onde cumprira pena por ter assassinado o poeta Ricardo Loureiro, seu amigo, e aí começa a contar a sua história para demonstrar a sua inocência. “A Confissão de Lúcio” trata basicamente do triângulo amoroso formado pelo escritor Lúcio, o poeta Ricardo Loureiro e a sua esposa Marta. Ricardo e Lúcio conhecem-se numa festa e, a partir daí, encontraram-se algumas vezes e aperceberam-se de que tinham afinidades e que as suas conversas pareciam atingir a alma de cada um. A confissão de Ricardo, destacada a seguir, é feita de maneira subtil e acaba por intrigar tanto Lúcio quanto os leitores: “Para ser amigo de alguém (visto que em mim a ternura equivale à amizade) forçoso me seria antes possuir quem eu estimasse, ou homem ou mulher. Mas uma criatura do nosso sexo, não a podemos possuir. Logo, eu só poderia ser amigo de uma criatura do meu sexo, se essa criatura ou eu mudássemos de sexo.” Ou:
“Se eu fosse mulher, nunca me deixaria possuir pela carne dos homens – tristonha, seca, amarela: sem brilho e sem luz...”. Pressente-se um tom de homossexualidade e, no segundo trecho, a homossexualidade está relacionada à figura da mulher, o que parece um paradoxo dizer que não se deixaria possuir por um homem, mas afirma que só