a cidade e as cerras
O narrador Zé Fernandes pretende demonstrar ao leitor a tese segundo a qual a vida no campo é superior à vida urbana. Para comprová-la, relata a trajetória de seu amigo, Jacinto. Herdeiro de grande fortuna obtida através da exploração de propriedades agrícolas de Portugal, Jacinto nasceu em Paris e adorava a cidade. Segundo ele, a capital francesa era o exemplo perfeito de civilização, o único espaço em que o ser humano poderia ser plenamente feliz. Chegou a criar uma fórmula, que mostrava que a “Suma Ciência” (tecnologia e erudição) multiplicada a “Suma Potência” (capacidade humana), conduzia à “Suma Felicidade”.
Jacinto e Zé Fernandes se conheceram na Universidade em Paris, mas este último teve que retornar a Portugal por motivos familiares e eles se separaram . Durante sete anos, Zé se dedicou à administração da propriedade rural de sua família em Guimarães, nas serras portuguesas. Resolvido a tirar um tempo para descansar, foi a Paris rever o amigo. Encontrou-o entristecido e corcunda, muito distante da vivacidade da juventude. Seu estado de espírito causava espanto, porque Jacinto tinha transformado seu palacete, no número 202 da Avenida dos Campos Elísios, em uma verdadeira demonstração de sua fórmula juvenil, dotando-o dos maiores avanços tecnológicos da época e de uma vasta biblioteca.
A despeito dessa maquinaria do conforto, Jacinto era infeliz. As amizades eram falsas e superficiais, a tecnologia de que se cercava não funcionava a contento e, por fim, os livros que lia lhe causavam aborrecimento.
Ao receber a notícia de um desabamento em sua propriedade em Torres, localidade próxima a Guimarães, Jacinto decidiu ir até lá. Depois de ordenar reformas no lugar, partiu com o amigo.
O atraso e a rusticidade de Torres surpreenderam Jacinto no primeiro contato. Aos poucos, porém, a natureza o encantou e ele resolver ficar. Reencontrando a antiga disposição, dedicou-se a algumas reformas na propriedade, melhorando as condições de vida dos