A cicatrização no ser humano
1993
Cicatriz: O corpo em restauraçãoPasso a passo, todas as tarefas que o organismo tem de executar para construir a cicatriz após um ferimento. por Lúcia Helena de Oliveira
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Quando alguém se machuca, o organismo começa imediatamente a restituir a área perdida no ferimento. Constrói, assim, a cicatriz.
Ao se olhar de perto, muito perto, qualquer machucado à-toa é um tremendo desastre. A barreira da pele racha; células que deviam permanecer associadas se separam; nervos se esgarçam; vasos sangüíneos se rompem. O microscópio mostra que o resultado de uma espetadela de agulha ou de um arranhão com a lâmina de barbear, por exemplo, tem lá suas semelhanças com o efeito destruidor de uma bomba. Para consertar o estrago, reconstruindo a região do corpo em ruínas, os organismos vivos acionam um dos mais instigantes mecanismos biológicos — a cicatrização.
Sem ela, toda ferida seria uma brecha fatal, servindo de entrada para micróbios e de saída para o sangue. Mas, apesar de sua importância, os cientistas ainda não conhecem direito cada detalhe desse fenômeno.
Acredita-se que os vasos sangüíneos sejam o ponto de partida. O tecido interno das veias e artérias, conhecido por endotélio, é impermeável. No entanto, quando o sangue vaza dali, entra em contato com estruturas permeáveis. As moléculas do plasma, a parte líquida da composição sangüínea, conseguem entrar, por exemplo, nos espaços entre as células dos músculos e da derme. Encharcados dessa maneira, esses tecidos passariam a liberar uma série de substâncias capazes de dar o primeiro impulso à formação da cicatriz.
Certos tipos de células sangüíneas, as chamadas plaquetas, também reagem ao ambiente estranho, o lado de fora dos vasos em que estão acostumadas a correr. Elas, que antes circulavam livres e soltas, colam umas nas outras e se empilham nas bordas dos vasos lesados por onde o sangue está escapando. Depois, amontoadas, começam a soltar microbolsas que, ao estourar, esparramam seu conteúdo.