A centralidade ontológica do trabalho em lukács
A centralidade ontológica do trabalho em Lukács
Sérgio Lessa* á 25 anos falecia George Lukács. Deixou inéditos um escrito sobre a democracia e o Leste europeu, redigido no calor na invasão soviética da Tcheco-Escolováquia, os manuscritos de sua Ontologia do ser social e a autobio grafia na forma de uma longa entre vista, Pensamento vivido. A trajetória desses textos é, no mínimo, curiosa. O livro sobre a de mocracia somente veio a ser publicado em 1989 na França e em 1991 nos Estados Unidos. Em 1983, seu con teúdo permanecia desconhecido até mesmo para o círculo dos colabora dores mais próximos de Lukács, em bora sua existência fosse tida como certa. A Itália foi o primeiro país a editar tanto a autobiografia em forma de entrevista, quanto a Ontologia do ser social. No Brasil, a tradução por
* Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas. Doutor cm Ciências Sociais pela Unicamp. 7
ne 52 - ANO XVII - dezembro 1996
Carlos Nelson Coutinho da Ontologia começou a ser publicada em 1979, porém foi logo interrompida1. A antiga Escola de Budapeste, herdeira natural do legado de Lukács, se esfacelou. Seus membros mais significativos, Heller e Feher à frente, abandonaram o marxismo. Antes mesmo da edição italiana dos manuscritos póstumos, publicaram um texto em que injustamente criticavam a inves tigação ontológica do último Lukács como um retorno à metafísica tradi cional. E Agnes Heller, em 19832, organizou uma coletânea cujo eixo é a tese de que esse pretenso retorno de Lukács à metafísica tradicional teria por objetivo justificar a sua “crença” no comunismo. Na Hungria, o nosso filósofo, que nunca fora admirado pela ordem soviética, é hoje criticado pela sua ligação com o antigo partido comunista, e o Archiv Lukács de Budapeste enfrenta crescentes dificuldades. Apesar de pouco divulgado e traduzido, ocorre com essas obras de Lukács na Europa algo semelhante ao que vivemos no Brasil: sua