A Bola Interpreta O
ALUNO (A):_______________________________________________________________CURSO/PERÍODO:______
A BOLA
O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentia ao ganhar a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola.
O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse “legal! “. Ou os que os garotos dizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.
__ Como é que me liga? __ Perguntou:
__ Como, como é que liga? Não se liga.
O garoto procurou dentro do papel de embrulho.
__ Não tem nenhuma instrução?
O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos decididamente outros.
__ Não precisa manual de instrução.
__ O que é que ela faz?
__ Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela.
__ O que?
__ Controla, chuta...
__ Ah, então é uma bola?
__ Claro que é uma bola.
__ Uma bola, bola. Uma bola mesmo.
__ Você pensou que fosse o que?
__ Nada, não.
O garotinho agradeceu, disse “Legal!“, de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com uma bola nova do lado, manejando os controles de um vídeo game. Algo chamado MONSTER BALL, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de blip eletrônico na tela ao mesmo tempo que tentava se destruir mutuamente. O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina.
O pai pegou a bola nova ensaiou algumas embaixadinhas. Conseguiu equilibrar a bola no peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto.
__ Filho, olha.
O garoto disse “legal“, mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as mãos e a cheirou, tentando recuperar mentalmente o cheiro do couro. A bola cheirava a nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boia ideia, pensou. Mas em inglês, para a garotada se interessar.
(Luís Fernando Verissimo.