A ausência da música portuguesa
Músicas do Mundo
Elísio da Cruz
A ausência da música portuguesa no contexto europeu:
Uma investigação em curso
António Pinho Vargas
Revista Crítica das Ciências Sociais, 78, Outubro 2007: 47-69
Este artigo de António Pinho Vargas apresenta um quadro teórico que serviu de alavanca a uma tese de doutoramento sobre a ausência da música portuguesa no contexto europeu. Mais propriamente, o autor tenta analisar os processos históricos que levaram à inexistência de música eru dita portuguesa no cânone musical europeu, fazendo no final uma revisão das cinco lógicas de Boaventura Sousa Santos, sobre as lógicas da produção activa da não-existência.
Uma vez que Portugal se apresenta numa posição subalterna, o autor simultaneamente apresenta uma visão sobre a ausência e a hegemonia. Recorrendo a Spivak, que realça a importância dos contextos, e
Boaventura de Sousa Santos que descreve a cultura portuguesa como uma cultura de fronteira, o autor admite que “a música portuguesa da tradição erudita nunca foi suficientemente diferente da europeia para se constituir como um seu “outro”, nem esteve suficientemente próxima para ser vista como uma sua parte integrante”. São vários os autores que problematizam e descrevem esta ausência. Por um lado, aspectos como o facto de a música não atingir entre os portugueses, o mesmo nível das outras manifestações artísticas, demonstrando um grande desinteresse revelado por uma atitude descuidada em relação aos músicos e compositores nacionais, faz com que haja uma ignorância sobre a mesma no estrangeiro. Por outro, já desde o séc. XVIII Portugal é visto pelos ingleses como primitivo e selvagem. Esta distância, de Portugal em relação à Europa, torna-se ainda mais acentuada aquando da formação da segunda modernidade, desde que aceita a interpretação eurocêntrica do Norte, ganhando estes países a d ominação cultural e ideológica. É precisamente nesta altura que se forma o cânone