A arte da contação de historias
Introdução
"Nós queremos aprender tudo aquilo que nos ensinam na escola, mas, por favor, deixem-nos os sonhos." Paul Hazard2
O conto da tradição de transmissão oral é a forma primitiva da arte de dizer. A tradição perpetuou essas narrativas como uma forma de ensinamentos transmitidos oralmente. Sua idade perde-se na poeira dos tempos, como diziam os poetas, e seu lócus nascendi ninguém sabe, ninguém viu.
Examinando o Dicionário Aurélio (FERREIRA, 1986, p. 465), temos que conto se refere tanto à narrativa falada como escrita. Os contos dos quais nos ocuparemos, neste trabalho, foram transmitidos oralmente, embora, muitos deles, hoje, encontrem-se em forma escrita. Deles, se diz: não têm autores; vieram da prática milenar da tradição oral, de boca para ouvidos. São conhecidos como "contos de boca."
Pensar o conto de tradição oral como instrumento de trabalho na área da educação, da psicopedagogia, da psicoterapia, da arteterapia, na atualidade, pode causar certa estranheza, já que estamos num tempo onde se procura sufocar qualidades como a memória e os saberes de antigamente, afinal estamos na era das máquinas, dos computadores e, consequentemente, a habilidade do ouvir e do contar histórias, ficou para trás. Mas, falar em memória, significa falar do encontro entre a memória e a tradição social efetuada pelo exercício da oralidade; significa também reavivar e atualizar a memória social de um povo, bem como abrir as vias de acesso a uma cultura autêntica do conto; uma cultura de transmissão de ensinamentos através da palavra falada. Esse é um desafio que vem nos cercando.
Nossas vidas estão cheias de máquinas, de mídia, de televisão e carentes de histórias, bem como de contadores, com eloquência para fazê-lo. Deixamos para trás esta arte, que na voz de W. Benjamin (1994) é uma troca de experiência do coletivo; uma transmissão de experiências, cujas condições de realização são bastante subjugadas nas sociedades modernas. O tempo