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Aline Fernandes de Sousa
PPGH – UFF
Egito, mulher, sociedade
ST 70 - Corpo, violência e poder na antiguidade e no medievo em perspectiva interdisciplinar
Os estudos voltados para história das mulheres no Egito antigo, cujas raízes encontram-se no movimento feminista do século XX, apresentam muitas vezes posicionamentos extremamente radicais. A descrição das mulheres egípcias como um grupo detentor de direitos iguais aos dos homens ainda é muito comum, sendo, atualmente, alvo de inúmeras contestações. Como exemplo, podemos destacar autores como Barbara Lesko que atribuem às egípcias um papel de destaque na sociedade1 , enquanto estudiosos como Gay Robins vêem para as mesmas uma posição secundária2
,
ou seja, defendem a existência de diferenças de gênero na estrutura social egípcia. Polêmicas à parte, não podemos negar que as mulheres do Egito gozavam de uma situação jurídica privilegiada, se comparada a outras civilizações antigas. Para os defensores de um privilégio feminino no Egito antigo, um dos argumentos encontra-se no pensamento religioso3
. Para os egípcios o mundo era uma totalidade coerente e sua explicação da realidade era construída através de mitos. Nestes eram empregadas inúmeras oposições que se complementavam e conduziam a uma síntese. Assim, a união desses opostos promoveria a criação. Dentro dessa perspectiva, masculino e feminino eram encarados como complementares e seu contraste visto como o principal exemplo do que é dinâmico. Mesmo pertencendo a um princípio único, este delimitava o que caberia a cada esfera de ação. Às mulheres caberiam as funções de gerar, curar e manter o equilíbrio e aos homens as funções de julgar, guerrear e conduzir4
.
Com relação à posse de terras e propriedades, vemos que desde o início do Reino Antigo5 homens e mulheres podiam possuir bens próprios. O casamento no Egito era um ato social, ou seja,