Você sabe com quem está falando? Um ensaio sobre a distinção entre indivíduo e pessoas no Brasil
Até agora, estive estudando ocasiões especiais da vida social do Brasil. As festas são momentos extraordinários marcados pela alegria e por valores considerados altamente positivos. A rotina da vida diária é que é vista como negativa. Daí o cotidiano ser designado pela expressão dia-a-dia ou, mais significativamente, vida ou dura realidade da vida. Em outras palavras, sofresse na vida, na rotina impiedosa e automática do cotidiano, em que o mundo é reprimido pelas hierarquias do poder do “sabe com quem está falando?”, e, obviamente, do “cada coisa em seu lugar”. Assim, pode-se dizer que o mundo automático da vida diária é o mundo das hierarquias e do caxias como paradigmas do comportamento quadradamente pautados pelas normas vigentes. A associação do nome do patrono do Exército a um tipo de comportamento formal, pautado por uma extrema preocupação com o cumprimento das normas, mais considerado de forma pejorativa, parece indicar a percepção complexa que temos da nossa ordem social, que nos permite leituras duplas ou triplas da sociedade brasileira. O carnaval e o dia da Pátria: uma comparação O ponto focal do Dia da Pátria é a passagem pelo local sacralizado onde se presta continência às mais altas autoridades constituídas. O povo faz o papel de assistente, e, junto com os soldados prestigia o ato de solidariedade e de respeito às autoridades e aos símbolos nacionais (a bandeira e as armas da República), por meio do sinal paradigmático de continência. O desfile militar cria um sentido de unidade, sendo seu ponto crítico a dramatização da ideia de corporação nos seus gestos, vestes e verbalizações, que são sempre idênticos. No dia da Pátria, assim, ficam separados autoridades e povo e, dentre as autoridades, aquelas que detêm e controlam maior ou menor parcela de poder. Como o desfile carnavalesco reúne um pouco de tudo – a diversidade