Viragem retórica em Kant?
Viragem retórica foi o termo aplicado na conceitualização da proposta de Chaim Perelman, idéias que podem ser encontradas em sua obra Tratado da Argumentação. Nesta, Perelman resgata o valor da retórica, matéria depreciada em praticamente toda a história da filosofia sendo-lhe reputada a fama de celeiro de falácias. Esse resgate se dá mostrando que o modus operandi da retórica também pode perfeitamente dar conta da nova configuração de saberes que se instaura no século XX.
Dentre um destes filósofos que se utilizam de artilharia pesada contra a retórica encontra-se Kant. Especificamente em uma passagem de sua Crítica da Razão Pura ele estabelece como âmbito privilegiado da retórica o convencimento, aquilo que sustenta uma argumentação quando seu caráter absolutamente verdadeiro encontra-se abalado ou sequer pode ser aventado.
A pergunta a ser feita, no entanto, é se este caráter é suficiente para atribuirmos ao julgamento kantiano um valor depreciativo dado à retórica, tendo em vista que no texto da Lógica, editada por Jäsche, Kant nos fala desta disciplina em termos de ‘perfeição estética do conhecimento’. Ali, além do caráter apriorístico e apodídico de um determinado saber, este mesmo deve ser colocado em termos que ao contrário de converterem a ciência em um discurso hermético, facilitem a comunicação entre a comunidade que por ele possa ter algum interesse.
Tendo em vista que falamos do autor do ‘O que é o Esclarecimento?’, e que se vivia o iluminismo, onde a palavra de ordem era ‘Sapere Audi!’, temos algumas dúvidas quanto ao verdadeiro papel da retórica no pensamento kantiano, pois, ao que parece, esta segunda opinião pode resguardar não uma tarefa heurística para a retórica, mas, também se afasta da simples erística na medida em que ela deve conduzir à divulgação ampla dos conhecimentos.
Portanto, esta é a tarefa à qual nos dedicaremos daqui por diante, investigar a possibilidade de pensarmos já no século XVII o