Violência contra a mulher no período da ditadura
Em primeiro lugar, penso que é interessante termos em mente que os conflitos armados, as guerras, a militarização da sociedade etc. reforçam e atualizam os estereótipos sexistas. Se, longe dos conflitos, as mulheres não têm os mesmos recursos econômicos, direitos políticos, autoridade e controle sobre seu entorno e suas necessidades que os homens, nas situações de conflito, isso se exacerba, aumentando a discriminação e a violência.
O Relatório da Anistia Internacional de 2004, elaborado por Irene Khan, ‘Vidas Rotas: Crímenes contra Irene Khan mujeres en situaciones de conflicto’ mostra a extensão dessa realidade no mundo contemporâneo (situação das mulheres no Afeganistão, estupros generalizados no Sudão, situação semelhante no Congo e na Colômbia, violações constantes nos acampamentos para refugiados, entre muitos outros. Sem contar a violência cotidiana, em casa, na rua, no trabalho). Nesses casos, não falamos em relações de poder, mas em estados de dominação, como diria Michel Foucault.
Podemos falar da disseminação da tortura, do desaparecimento e dos sequestros perpetrados pelas forças repressivas durante a ditadura militar, que atingiram os militantes em geral, adquirindo um caráter específico em relação às mulheres por meio da violência baseada no gênero. Torturar através de violação, mutilação, humilhação, insultos e ameaças sexuais caracteriza a tortura baseada no gênero, sistematicamente utilizada contra as mulheres, apesar de, muitas vezes, homens e meninos também serem vítimas desse tipo de tortura; acrescentando-se especificamente às mulheres os choques elétricos em grávidas e introdução de objetos na vagina.
Uma ex-presa política brasileira relata, no filme-documentário Que bom te ver viva, de Lúcia Murat, que foi despida já no momento da prisão. Prisão que se deu após uma perseguição policial em que foi presa juntamente com outros companheiros do grupo ao qual pertencia. Além de ser obrigada a