vida e obra de luandino vieira
Primeiramente, convém situarmos uma breve alusão ao título deste artigo intitulado "A escritura engajada e transculturada de José Luandino Vieira" para a compreensão dos parâmetros da análise literária comparativa que nos propormos. Ao utilizar a palavra "escritura", consideramos como mais legitimada e forte do que "escrita" conotada como um ato de escrever; enquanto que "escritura" conota um registro histórico parcial da sociedade, um ato de assumir uma postura engajada ou quebra de barreiras. A alusão à engajada e transculturada nos remete a aventurar-se no circuito dos musseques por meio das duas ficções de José Luandino Vieira, A vida verdadeira de Domingos Xavier e Luuanda: estórias, a fim de conhecer o drama da sociedade angolana diante da colonização portuguesa, assim o escritor assume uma voz popular, preocupando-se muito mais com denunciar a repressão colonial e cantar a luta de libertação nacional de Angola.
Com essa perspectiva, o escritor não cria do nada, pois tendo em vista a existência da matéria da tradição literária, como afirma Abdala Juniori, em um estudo específico sobre a comparação entre escritores engajados das literaturas de língua portuguesa, diz que o escritor absorve e metamorfoseia nos processos endoculturativos, desde a apreensão "mais espontânea" dos pequenos causos populares, ditos populares, canções etc., da chamada oralitura (literatura oral) até os textos "auto-reflexivos" da literatura erudita. Ocorre, nesse sentido, uma apropriação "natural" das articulações literárias sem que o próprio futuro escritor se aperceba de sua situação de ser social e de "porta-voz" de um patrimônio cultural coletivo.
Dessa forma, a motivação do nosso estudo é saber: de que modo Luandino Vieira consubstancia como um escritor engajado e transculturador nas obras A vida