Verdades eternas - espinosa
INTRODUÇÃO
Com base nas considerações dos estudos cartesianos da livre criação das verdades eternas e do tema expresso por Espinosa presente em sua Ética. Procuraremos produzir o presença artigo com o objetivo de iluminar algo da concepção espinosana de necessidade, como apresentada nas proposições da Ética.
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VERDADES ETERNAS
Uma das mais notórias e controversas teses do cartesianismo é aquela que sustenta a livre criação das verdades eternas por Deus; teoria primeiramente surgida nalgumas cartas de 1630. Em resposta a investigações do um amigo, afirma então Descartes: “as verdades matemáticas, as quais nomeais eternas, foram estabelecidas por Deus e dele dependem inteiramente, bem como todo o resto das criaturas.”(DESCARTES, [19--], v.1, p.145). Nestas poucas palavras está o essencial da tese. À revelia da tradição que desfiava argumentos para compreender os limites racionais da ação de Deus (idéias contidas em seu intelecto, princípio de contradição, etc.), Descartes extrema a potência divina e faz valer em plenitude todos os predicados que a levam a ser designada uma “onipotência”. Poderia Deus ter criado um mundo inteiramente diverso do nosso, em que sequer as verdades da lógica ou da matemática tivessem validade; “e digo que ele foi tão livre para fazer que não fosse verdadeiro que todas as linhas tiradas do centro à circunferência fossem iguais como para não criar o mundo.” (DESCARTES, [19--], v.1, p.152). Toda verdade, em suma, epistêmica ou moral, é uma criatura, e só é verdadeira porque Deus assim a quis no momento da criação. A relativa simplicidade do enunciado básico da tese cartesiana de 1630, inalterado ao longo dos anos, não deve sugerir o pouco caso de suas implicações profundas, as quais aliás obrigarão seu formulador a desdobrar-se em meandros explicativos e conseqüências variegadas.
Ora, no âmbito deste texto nosso interesse não recai imediatamente sobre a tese cartesiana em si, mas sobre a singularidade da posição de Espinosa