Verborragia
É incrível como certas pessoas falam, eu mesmo sou inacreditável neste sentido. Cada vez mais, lembro do que minha avó Tereza falou, quando eu tinha uns 12 anos de idade. Percebendo que eu não parava de falar e querendo dar aquela dica sutil, sem ofender, sem se dirigir a mim, mas falando como se fosse para ela mesmo, citou o velho ditado:
“ Deus nos deu duas orellhas e apenas uma boca, porque é para ouvirmos mais do que falamos”
A ficha caiu lá pelos 27anos de idade. Engraçado, comecei a ser muito crítico com todos os verborrágicos. Inclusive comigo mesmo. Houve tempos que achei que pegava pesado demais. Me redimi numa festa de formatura de uma amiga, seu avô, médico de respaldo, realizador de obras sociais e faceiro pelo fato que se consumava naquele evento, andava babando palavras pelo ambiente. Pensei comigo, hoje ele pode, aliás, incentivo! Que noite feliz, que pessoa orgulhosa, que velhinho bom. Começamos a conversar, descobri que ele é mantenedor de uma ONG que ajuda jovens dependentes químicos. Seguimos conversando sobre suas grandes realizações e descobri que ele havia se formado pela Federal de Santa Maria.
Amados amigos meus também se formaram médicos por esta escola. Um em especial, havia sido velado de uma maneira tão fanática por pessoas sem nenhum vínculo de sangue que gravei indelével na memória uma cena. O mendigo, que após velar o amigo doutor desde que o corpo havia chegado à capela (24hs atrás), soluçava pela perda prematura de uma pessoa que ainda faria muito por ele pelos outros.
Pois não é que o velhaco havia sido colega destes meus amigos. Incrível como as pessoas não se dão conta. Eu havia dado sinais claros de minha amizade com estas pessoas, mas mesmo assim o velhaco soltou a língua e falou o que eu não espera ouvir, coisas pueris, sem propósitos benéficos, apenas para mostrar que sabia quem eram as pessoas que eu havia comentado. Choquei-me, fiquei vermelho, afônico, tremi, sentei no sofá, as pernas fraquejaram.