ETICA
A questão é que, no nível do pensamento, nunca se pode atuar de modo sequencial, como se houvesse uma sequência de instantes sucessivos que gerasse uma consistência no pensamento. O pensamento não opera por sequência cronológica. E muito menos é necessária uma sequência histórica para se pensar. Nós não precisamos de nenhuma instrução, de nenhuma erudição para exercer o pensamento. Aliás geralmente quanto mais instrução, menos pensamos – é o que acontece. Quanto mais sabedoria temos, menos pensamento nos atravessa.
Estar vivo: isto seria um problema. O que é estar vivo? Será que realmente estamos vivos? O que se passa conosco? Onde acreditamos que a realidade realmente se passa em nós? Será que quando eu falo, eu penso, eu não estou simplesmente emitindo signos delirantes, imaginários? Eu não estou simplesmente numa verborragia sem fim, ligando imagem com imagem, acreditando que penso ao associar imagens? Será que a imagem não precisava receber um brilho que diz que ela é apenas um fulgurar? Porque há algo que atravessa a imagem que realmente é o real. Algo que se passa não mais agora na imagem, muito menos num sujeito e num objeto, mas é algo que se passa entre os corpos. Não mais uma comunicação de informação, de conteúdo, não mais uma reflexão de idéias, não mais uma contemplação de um objeto, mas um acontecer e passar. Algo que se passa entre e que me arrasta, que me faz criar, que me faz inventar, que me faz pensar.
Então de que modo eu vivo o tempo? Eu vivo o tempo como uma sucessão de instantes? Ou eu vivo o tempo de modo a suspender o instante e a minha decisão de livre-arbítrio? Quando eu acredito que tenho o livre-arbítrio para escolher entre o bom e o mau, entre isto e aquilo, eu fico numa inflexão, numa hesitação, numa claudicação que na realidade é a própria natureza do problema.
A vida é sempre problema. E problema não é sinônimo de negativo, o problema é a riqueza, o dom que nós temos o tempo inteiro, a