O sol e a sombra - Laura de Mello e Souza
Raymundo Faoro é autor de uma interpretação marcante sobre o Brasil, em que ressalta o papel central do Estado no processo de constituição do país e sua capacidade de moldar uma criatura- o estamento burocrático- que sempre reproduzisse a ordem dominante sem lhe alterar a essência. Segundo a interpretação de Faoro, o sistema administrativo português foi transposto com sucesso para suas colônias graças a um Estado que cedo se centralizou e soube, com maestria, cooptar as elites, inclusive as locais, como os “bandeirantes” paulistas. Faoro ressaltou o papel do Estado também porque desejava relativizar a poderosa interpretação de Gilberto Freyre, segundo a qual a família marcava a colonização desde o início e orientava toda a formação da sociedade. Desse modo ele conseguiu fornecer uma alternativa analítica para a compreensão do Brasil e de suas elites, mas negligenciou o matiz das situações específicas ou desviantes e, exagerando o papel do Estado, disseminou a ideia perigosa de que independentemente do contexto, ele antecedeu a sociedade.
Para Oliveira Viana, a administração portuguesa que amordaçou a colônia era em tudo díspar da sociedade, então rarefeita, dispersa e ganglionar. Caio Prado Jr., qualificara a administração portuguesa de caótica, irracional, contraditória e rotineira. Prado Jr alerta para a impossibilidade de se pensar a administração daquele tempo tomando-se por base a do nosso: os princípios eram diversos, o público não se distinguia claramente do privado, não havia a unidade e a simetria que hoje se observam, discriminando funções, definindo competências e atribuições.
A posição do autor é, portanto muito peculiar. Reconhece que se está diante de um sistema distinto, mas desconsidera que este tenha uma lógica própria. O autor recrimina o Estado português por ter sido incapaz de criar algo original na administração da colônia.
A obra de Hespanha tem sido decisiva no sentido de