Velhos e Novos Mitos do Rural
E
N OVOS MITOS
DO
R URAL BRASILEIRO
Velhos e novos mitos do rural brasileiro
JOSÉ GRAZIANO DA SILVA sintética podemos dizer que nossas pesquisas no âmbito do Projeto Rurbano (1) nas suas fases I e II (2) contribuíram para derrubar alguns velhos mitos sobre o mundo rural brasileiro, mas que, infelizmente, podem estar servindo para criar outros novos.
D
E FORMA MUITO
Apresentaremos a seguir o que julgamos ser as principais conclusões obtidas pela pesquisa até o momento e um listado do que estamos nos propondo a pesquisar na fase III, iniciada em maio de 2001 e que se prolongará ate 2003.
Os velhos mitos
“O rural é sinônimo de atraso”
Mostramos que o rural não se opõe ao urbano enquanto símbolo da modernidade. Há no rural brasileiro ainda muito do atraso, da violência, por razões em parte históricas, relacionadas com a forma como foi feita a nossa colonização, baseada em grandes propriedades com trabalho escravo.
Mas há também a emergência de um novo rural, composto tanto pelo agribusiness quanto por novos sujeitos sociais: alguns neo-rurais, que exploram os nichos de mercados das novas atividades agrícolas (criação de escargot, plantas e animais exóticos etc.); moradores de condomínios rurais de alto padrão; loteamentos clandestinos que abrigam muitos empregados domésticos e aposentados, que não conseguem sobreviver na cidade com o salário mínimo que recebem; milhões de agricultores familiares e pluriativos, empregados agrícolas e não-agrícolas; e ainda milhões de sem-sem, excluídos e desorganizados, que além de não terem terra, também não têm emprego, não têm casa, não têm saúde, não têm educação e nem mesmo pertencem a uma organização como o MST para poderem expressar suas reivindicações.
Infelizmente essa categoria dos “sem-sem” vem crescendo rapidamente, em especial a partir da segunda metade dos anos 90. Os dados da PNAD de 1999 permitem uma aproximação desse contingente de pobres rurais: são quase três