Velha praga
(n: 18/abr/1882, Taubaté, SP; f: 04/jul1948, S.Paulo, SP) Conto publicado em seu livro URUPÊS, de 1918
(publicado avulso inicialmente no jornal “O Estado de S. Paulo”, em 1914)
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Mal se ia aquele, vinha outro: - Patrão, o Trajibú está queimando! - Então, já seis? - É verdade. Há o fogo do Teixeirinha, o fogo de Maneta, o fogo do Jéca... - Fogos “signés”!... Que patifes! Mas hão de pagar. Denuncio-os todos à polícia.
O capataz sorriu. - Não vale a pena. São eleitores do governo; o patrão não arranja nada. - Mas não haverá ao menos um incendiário oposicionista que possa pagar o pato? - Não vê! Caboclo é ali firme no governo justamente p’r’amor do fogo.
Tinha razão o homem. Eram todos do governo. E o eleitor da roça, em paga da fidelidade partidária, goza-se do direito de queimar o mato alheio.
Impossibilitado de agir contra eles por meio da justiça o pobre fazendeiro limitou-se a “tocar” alguns que eram seus agregados e... a “vir pela imprensa”. Escreveu e mandou para as “Queixas e Reclamações” d’“O Estado de S. Paulo” a tal catilinária mãe dos Urupês. Esse jornal, publicando-a fora da seção de queixas, estimulou o fazendeiro a reincidir. Reincidiu. E quando deu acordo de si, virara o que os noticiaristas gravemente chamam um “homem de letras”.
Ora aí está como as coisas se arrumam, e como, por obra e graça de meia dúzia de Neros de pé-no-chão entra a correr mundo mais um livro.
Setembro, 1918.
O artigo “Velha Praga” com que o tal fazendeirinho “veiu pela imprensa”, era o seguinte: VELHA PRAGA
Andam todos em nossa terra por tal forma estonteados com as proezas infernais dos belacíssimos “vons” alemães, que não sobram olhos para enxergar males caseiros.
Venha, pois, uma voz do sertão dizer às gentes da cidade que se lá fora o fogo da guerra lavra implacável, fogo não menos destruidor