utopia
Lembrei-me que foi ali, na porta do Clube Militar, na tarde do dia 31 de marco de 1964, que presenciei estarrecido as tropas da Policia do Exército disparar contra o povo desarmado que defendia o governo João Goulart. Com apenas 17 anos vi corpos abatidos ao meu lado pelo Exército do meu país, e, embora tenha mantido a minha vida, naquela tarde perdi a minha liberdade.
Mais tarde, na mesma Cinelândia, emocionado, cansado pelos anos de luta, assisti com a multidão, através do som de um trio elétrico, a sessão no Congresso na noite do dia 28 de abril de 1984 – momento da votação da Emenda das diretas Já. Embora derrotada, ela deu cheque- mate na ditadura, que ficou com seus dias contados. Recuperávamos então a liberdade política perdida!
A obra de Silvio Tendler nos remete àqueles momentos. Trata-se de um intenso trabalho de pesquisa e coleta de som e imagem com o objetivo de nos lembrar a importância das utopias no desenvolvimento de um povo, na suplantação dos estados de barbárie que por vezes se impõem, oprimindo a sociedade. Segundo o diretor, foram dezenove anos de trabalho e quinze países visitados, resultando no olhar diverso de cerca de 50 personagens. Por meio deles, e a partir do vendaval que varreu o mundo na década de 1960, o filme reconstrói o pós-II Grande Guerra. Trata-se de rever essas utopias e perguntar: o que resultou disso