Universitário

DE PEITO ABERTO

Você está me ouvindo? Responde!! Diga alguma coisa. Como estou? Vivo? Morto? Onde estou? Não enxergo nada, não ouço nada. Será que tomei o comprimido errado? Não brinca. Sabe, isso me faz lembrar da primeira (e penúltima) vez que puxei fumo. No terceiro tapinha, pergunto singelamente aos que estavam na roda: Eu estou falando ou estou pensando? Fizeram um certo mistério, entreolharam-se com aquelas pupilas dilatadas e cúmplices, até responderem em coro: bateu legal, hein! Bons tempos aqueles. O importante era ser contra . Eu, particularmente, era contra a virgindade, a guerra do Vietnã, o capitalismo, o J.G. de Araújo Jorge e o Zé Mauro de Vasconcellos. Sempre que falo desses dois, vem logo a pergunta: quem são esses caras? Eles eram os escritores brasileiros mais famosos dos anos sessenta. Prova inconteste de que as piores merdas literárias são as que mais vendem, desde que eu me conheço por gente. Uma porcaria substitui a outra e as mais antigas vão caindo no esquecimento. Minha postura contestadora sofreu um baque quando encarei a cannabis pela segunda vez. Depois de algumas tragadas, tive a absoluta certeza de que era um pássaro, mistura de rouxinol, bem-te-vi e tie sangue, cujo destino era me alimentar com a seiva das rosas amarelas da cobertura do prédio em frente. Antes de alçar vôo, mãos fortes me seguraram e cuidaram de mim até terem certeza de que eu não me considerava mais um bicho de penas. Preciso saber o que acontece comigo. Consigo ver perfeitamente o que aconteceu há quarenta anos atrás e não tenho a mínima idéia do que está rolando agora. Você ouviu o que acabei de contar?

Será que estou mesmo falando com alguém? Ou será um sonho? Um pesadelo? Que zoeira! Acho que tive uma alucinação e você apareceu para me socorrer. Em todo caso vou lhe contar o delírio:

Estava numa selva escura e tenebrosa. Senti-me perdido e arrepiado. O lugar não tinha nem ao