Uma Mulher Vestida de Sol
A História começa com a mesma passagem.
Apocalipse 12:1 eis que surge a visão de uma mulher vestida de sol, que tinha a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. Em 1957, após sua conversão ao catolicismo, Suassuna reescreveu a peça na versão atualmente conhecida. A obra é repleta de referências a figuras do cristianismo e, de modo especial, da Igreja Católica. Além disso, Suassuna aliou a tragédia ao drama do sertão, à vida sofrida de grande parte do povo nordestino. Ele pintou o retrato de uma terra carregada de tanta dor que, nela, crer em Deus chegava a ser uma questão de necessidade e sobrevivência, pois só a fé seria capaz de conceder alívio e esperança. Assim, o espírito cristão fatalmente se atrelava ao drama da terra árida. O Nordeste de Ariano tem sua história ainda governada pelos insondáveis desígnios de Deus. É um espaço que oscila entre Deus e o Diabo. É um jogo de cartas cujas regras não foram reveladas a ninguém [...]. No Nordeste, era ainda Deus que dava sentido às coisas, notadamente para o homem pobre do sertão [...]. (ALBUQUERQUE JR., 2009, p. 188). É nesse momento que a dúvida se faz presente: como pode o autor criar uma tragédia em um contexto cristão? Essa interrogação leva a outra pergunta, mais inquietante: Uma mulher vestida de sol pode, de fato, ser considerada uma tragédia? Inicialmente, cabe observar que duas características, facilmente identificáveis, fazem com que o leitor/ espectador reconheça na obra contornos de tragédia. A primeira é o transcorrer do tempo. A história inicia em um nascer do sol e termina no nascer do sol seguinte, conforme determinado por Aristóteles.
Resumo da Peça.
Uma Mulher Vestida de Sol é uma peça, dura, com grandes doses de realismo que mostra friamente as dores da seca, a justiça