Uma ideia de justiça
O autor Amartya Sen identifica um problema da abordagem transcendental: pluralidade de princípios concorrentes que reivindicam relevância para a avaliação da justiça e não existência de um arranjo social perfeitamente justo, o que a torna inviável. O primeiro exemplo apresentado é o da tentativa de escolher entre um Picasso e um Dalí. Invocar um diagnóstico que possibilite a escolha segundo o qual o quadro ideal no mundo é a Mona Lisa pode ser interessante mas não tem relevância na escolha entre um Picasso e um Dalí. Não é necessário falar sobre o que pode ser o quadro mais grandioso e perfeito do mundo, e também não é suficiente ou de alguma serventia saber que a Mona Lisa é o quadro mais perfeito do mundo quando a escolha é entre um Picasso e um Dalí. Nessa abordagem transcendental é necessário recorrer ao exercício comparativo para saber qual processo se aproximaria mais do ideal de justiça perfeita representado pela Mona Lisa. Abre-se então um questionamento: uma teoria que identifica uma alternativa transcendental também não nos diria, pelo mesmo processo, o que queremos saber sobre a justiça comparativa? A resposta é não.
É claro que é possível ter uma teoria que faça as duas avaliações: comparações entre pares de alternativas e uma identificação transcendental (quando isso não for impossível devido à sobrevivente pluralidade de razões imparciais que reivindicam nossa atenção). Ela seria uma “teoria conglomerada”, mas sem dependência uma da outra. As teorias padrão de justiça transcendental não são de fato conglomeradas, mas seu processo de desenvolvimento podem ser utilizados argumentos que valem para o exercício comparativo, mas uma alternativa transcendental não oferece solução para o problema da comparação entre duas alternativas não transcendentais.
Ao discorrer sobre as realizações, vidas e capacidades o autor aponta a necessidade de uma teoria que não se limite à escolha das instituições nem à identificação de arranjos