uma história social do trabalho
Antonio Luigi Negro e Flávio Gomes
“Que o número de nossos membros seja ilimitado”, rezava uma das diretrizes da Sociedade Londrina de Correspondência. Ao citar essa conhecida passagem da Formação da classe operária inglesa, destacamos como importantes estudiosos – S. Chalhoub e J. S. Leite Lopes – a ela recorreram para se pronunciar a respeito da influência de E. P. Thompson na historiografia brasileira. Ao lado de outros como Castoriadis (1985), Genovese (1976),
Perrot (1988) e Williams (1969; 1979), também Hill e Hobsbawm têm sido fonte de inspiração e referência. A despeito disso, um desafio ainda persiste. Qual? Um inexistente diálogo entre os estudos de escravidão e pósemancipação – as experiências urbanas e rurais de milhares de africanos e crioulos – e as investigações que analisaram a imigração européia, ou as experiências do trabalho livre: os mundos dos trabalhadores no fim do século XIX e no início do XX. Questionado e apontado desde a década de
1990, esse quase-hiato de reflexão historiográfica e o escasso investimento em pesquisa empírica vêm sendo superados por avanços que seguem seu curso. Utilizada para assaltar as massudas bibliografias que separavam o século XVIII do XIX (cf. Thompson, 1987, pp. 15, 111), a remissão à
Sociedade Londrina de Correspondência tem servido, por aqui, para frisar a necessidade de uma escrita da história do trabalho não apenas pautada numa classe trabalhadora exclusivamente branca, fabril, de ascendência européia, masculina e urbana (cf. Leite Lopes, 1993; Chalhoub 2001)1.
* Este artigo traz resultados de pesquisas e estudos comparativos sobre a formação da classe operária no Rio de Janeiro e Salvador, com apoio do CNPq e do Procad.
Agradecemos aos nossos respectivos programas de pós-graduação e aos alunos de graduação e pós das disciplinas sobre história da escravidão e história social nos séculos XIX e XX, entre
2003 e 2005,